13 outubro 2015

Fingir que não mais me importo

Ele ocupava o maior tempo das minhas horas, e isso me incomodava. Quando a presença daquela ausência ficava constante eu me questionava o motivo pelo qual ele “estava” comigo o tempo todo; decidi não racionalizar e aceitei que de uma forma um tanto torta a vida dele era prioridade na minha. Mudei hábitos, compatibilizei horários e não escondi minha preocupação – às vezes exagerada – com ele. No início busquei ser discreto, mas em dado momento já não me policiava quanto minha necessidade de saber dele, de fazer ele se sentir bem, de estar com as mãos sempre estendidas e ao alcance das dele.  
Nós juntos não formávamos um casal, mas aos olhos de qualquer desatento “nós" éramos “um”; o casal certinho e bonito que ninguém problematizava e que na contramão das reações sociais todos naturalizavam e acreditavam ser ad eternum...
Irritava-me a certeza alheia, uma vez que nada além de amizade era a base da nossa relação; mas também dei de ombros e continuei a cuidar dele, e rir com ele, e dormir pensando nele assim como acordar com ele no meu primeiro pensamento.
A gente navegava sem destino e necessidade alguma de um porto ou mesmo nascer de sol; o tempo, a sina, a construção, o dia de amanhã, nada interferia no oceano calmo em que nos transformamos. Mas uma tempestade chegou, e ela era da cor dos nossos olhos já descritos por Renato Russo; dormíamos e nem sequer percebemos a revolta. Apenas nossos corpos nus, náufragos, doídos, separados em lados opostos da ilha em que cada um hoje vive.
Não tivemos nem sequer tempo de brigar, inventar desculpas quaisquer, sentir a dor avassaladora da “separação”, arrepender-se ou mesmo maldizer o outro.
Ele ainda está aqui, agora mesmo divide meu travesseiro e a todo instante atravessa meus pensamentos com constância, mas é preciso fingir. Volto a ser aquele que nunca se importa, que está acima dos sentimentos e desejos; finjo e sigo – um novo barco vai me resgatar  e vou capitanear a fim de buscar um porto, meu porto, eu porto. Você horizonte.

5 comentários:

  1. Olá Giuliano!
    Tudo começou por obra de um feliz acaso que só a internet é capaz de nos proporcionar.
    De há muito conheço o seu Blog.
    Não te conheço nem virtualmente, mas aprendi a admirar-te de forma incotextil.
    Ficção ou realidade não sei e isto pouco importa.
    Importa sim, sua forma nua e crua de abordar temas com os quais muito identifico-me. Seja em meu mundo real ou em minha dimensão mais íntima.
    Sem máscaras, sem rodeios, sem hipocrisia. Uma forma direta de desvelar sentimentos que, a maioria das pessoas possuem mas que, por inúmeras razões, não são capazes de tratar de forma tão aberta e direta.
    Pena que você, há algum tempo, não tem mais postado estas suas preciosidades.
    Tenho também um blogue e, com sua permissão, gostaria de iniciar uma série por lá com alguns de seus textos. Claro que com todos os cuidados de lhe conferir os devidos direitos autorais, bem como com o link de seu espaço por aqui.
    Este projeto teria seu início em 21/07 próximo.
    Conto com sua atenção e autorização.

    Agradeço desde já.

    Grande abraço e um beijão.

    Paulo Braccini - Bratz - enfim! é o que tem pra hoje ...

    http://paulobraccini-filosofo.blogspot.com.br/

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    1. Que bom que gosta dos textos, e sim andei bem afastado...
      Mas curioso que pouco antes de seu comentário ei postei algo e agora alterei o layout e tenho planos de escrever com alguma frequência. E quanto à publicação de meus textos sinta-se à vontade, a única coisa que exijo é o crédito de autor. E obrigado pelas palavras referentes aos textos, é um grande incentivo saber que existe identificação e leitores.

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    2. Que prazer Giuliano. Finalmente conseguimos nos falar. Já conheço o seu trabalho há algum tempo e gosto por demais. Uma forma de lidar com as letras incrível. Direta, rasgada, nua e crua, para descrever o cotidiano comum muitos.
      Feliz em tê-lo por aqui e mais ainda por saber que, de algum modo, contribuí para vc voltar a escrever.

      Beijão

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  2. Que bom que gosta dos textos, e sim andei bem afastado...
    Mas curioso que pouco antes de seu comentário ei postei algo e agora alterei o layout e tenho planos de escrever com alguma frequência. E quanto à publicação de meus textos sinta-se à vontade, a única coisa que exijo é o crédito de autor.

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    1. Que prazer Giuliano. Finalmente conseguimos nos falar. Já conheço o seu trabalho há algum tempo e gosto por demais. Uma forma de lidar com as letras incrível. Direta, rasgada, nua e crua, para descrever o cotidiano comum muitos.
      Feliz em tê-lo por aqui e mais ainda por saber que, de algum modo, contribuí para vc voltar a escrever.

      Beijão

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