20 março 2011

Um livro roubado

Quando um fato relembrado aconteceu há mais de 10 anos (Uma Década) e você marotamente pensa: “Nossa, parece que foi ontem”, é sinal que apesar da sua conveniente indiferença o tempo marcou seu rosto e corpo; e se já não é você está prestes a ser classificado como velho. A vida e o implacável tempo...
E ao tocar as páginas já gastas de um livro, aquele que um dia roubei, uma destas reminiscências me ocorre, clara, suave, divertida e ufana.
Festinha casual, amigos sorrindo, bebendo, cantando e uma estante. E lá na estante ele me pedindo para ser tocado, não pela primeira vez, já éramos íntimos e ele me satisfazia como poucos, com a vantagem de ser rápido igual ao gozo do adolescente ao observar pela fresta da porta do banheiro. 
Não hesitei e de imediato decidi que ele ia me possuir e eu a ele - unidos para sempre - e nosso casamento aconteceu ali às escondidas com ele no bolso traseiro da minha calça jeans. 
E a festa seguia seu rumo, mais bebidas, algumas brincadeiras, danças, gritinhos e uma tensão quase imperceptível pelo fato de estar eu junto ao objeto do roubo. Quem sabe desmascarado entre os amigos, a quebra da confiança, o ato ilegal, e os dedos em riste a me apontar; mas nada me incomodava ele estava comigo.
Na tranquilidade do meu quarto eu o leio com desejo ainda maior, agora de minha posse a leitura tinha um outro sabor. O crime me fazia mais reconhecível naqueles personagens todos que de uma forma ou outra eu amava.
Objetivando dividir a culpa que não sentia eu fiz do Tuca um cúmplice, e ao contar o roubo ele com um sorriso largo me pediu emprestado o objeto que também era desejado por ele. E desde então o “Contos Diminutos” é lido e relido por nós, e quando não está aqui comigo está lá na casa do meu mais velho e melhor amigo. Condição indispensável para a boa convivência é a total fidelidade, nunca o emprestamos e sempre perguntamos dele quando de posso do outro. É melhor assim, vigiar sempre, afinal não posso vacilar e permitir que um outro alguém tente roubá-lo, isso seria um absurdo imperdoável. Cortar a mão do ladrão seria minha resposta, e assim marginal seria eu novamente.

5 comentários:

  1. A-do-re-i!
    Pude imaginar perfeitamente, a tensao de ter o objeto de desejo tao próximo e nao querer ser descoberto.

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  2. Que coisa! Vc roubou o Contos Diminutos? Tenhos vários exemplares empoeirados dentro do guarda-roupa... sem saber o que fazer com eles... Obrigado pelas boas palavras à minha única "contribuição" à literatura nacional. Acho q será mesmo única. Perdi minha capacidade de escrever em código-poético. Abraços!

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  3. Sábias palavras, Giuliano! Gostei bastante do seu blog!

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  4. muito bom, todo erro será perdoado se a causa for boa...

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  5. Angélica, minha fiel amiga/leitora.


    Guinozaaaaaaaaaaaaaaaaaaa,roubei sim e minha edição é autografada pelo autor rs...


    Julia, obrigadopela visitinha ao blog.

    É o Poyo, meu amigo inteligente e bem humorado. Delícia ver você comentando meus absurdos aqui rs...

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