10 junho 2009

Exercitando o outocontrole

Em uma quadra esportiva localizada no bairro Santo Antonio acontece evento carnavalesco, e claro lá estou eu. Não é necessário enfatizar que é o programa que mais me atrai e realiza.
O samba, batucadas, gente disposta dançando, e a sensação dúbia de estar em um lugar no qual você conhece pouquíssimas pessoas é algo que realmente me excita. A vontade de confirmar a felicidade é presente, constante e inevitável. Ao som de uma bateria de escola de samba os quadris são possuídos por uma vontade (ancestral africana), própria e latejante. Respiro fundo, olho ao redor e decido não sucumbir ao chamado. Vou manter a postura e não me jogar no samba. O som invade a cabeça, embriaga, o corpo se movimenta involuntariamente, pés se afastam do chão, leves ondulações se formam dos ombros aos quadris – resisto!
Não, não posso, hoje não vou suar ao som de nenhuma bateria. Retomo o comando das coisas e fico naquele passinho, um pra lá um pra cá, nada comprometedor.
Eis que a cerveja gelada dá ânimo ao meu amigo, que só para contrariar as estatísticas começa a dançar, sorrir de alegria, totalmente contagiado pelo som dos tamborins, ritmo forte dos surdões e delicadeza dos agogôs.
E ele se jogou, sambou, suou e se divertiu mesmo – e todo excesso comparado é pouco.
Já me sentia vitorioso, mas a tentação não era apenas sonora e o exercício de autocontrole continuou nas veredas masculinas.
O que era aquele menino, de seus vinte e pouquíssimos anos? Lindo, uma delícia – olhos fechadinhos, baixinho, arrumadinho e dançava como deve dançar um homem (desajeitado, devagar e sempre com uma cara de satisfação). Controlei meus instintos, e resisti à vontade de suspirar em seu ouvido que ele era a coisa mais deliciosa da noite; e claro agarrá-lo e dançar junto. Vencida mais uma etapa, não a última.
Na contramão do “quase-perfeito” ainda suportei as provocações de certo homem, daqueles que fazem o estilo largado, soltinho, simpático – quando o vi veio à mente a frase: “Pego, não me apego”. Ele ia e vinha, esbarrava, olhava, dançava e se fazia notar – a qualquer custo.
E ele não precisa fazer muito para ser visto, afinal é alto, negro, cheio de amigos e dança como que guiado por um demônio. Racionalmente agi e deixei para trás a oportunidade de colocar o pé na senzala e quem sabe adotar mais este segmento ao meu cardápio; autocontrole.
E como tudo tem limites, sucumbi à necessidade primordial de me alimentar. Em casa comi lentamente e, entre uma garfada e outra, questionei se foi bom ou não vencer aos variados desejos do corpo.

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