Fui inundado, de dentro do próprio corpo e por todo ele, por um sentimento até então desconhecido: Ódio.
Descontrole, uma vontade absurda de ver a dor no outro, de o fazer sofrer, assim como assassinar e depois chutar a cabeça estraçalhada por tiros, imersa em sangue ainda quente. O ar falta aos pulmões, os olhos não enxergam e a razão escapa: torpor, êxtase, epifania às avessas, orgasmo, catarse.
Não fosse a distância entre eu e o objeto de minha ira a violência primaz tomaria as rédeas de minhas ações, sempre controladas, planejadas, contidas, acertadas, coerentes.
Enquanto era tomado por este novo sentimento, buscava lapsos de racionalidade; sim tentei controlar as águas escuras, fétidas e espessas do meu ódio. A motivação para tanta força nada mais era do que qualquer situação ordinária, mas naquele momento eu só queria cravar minhas unhas no peito dele e sentir a carne rasgando, a dor lancinante e o cheiro metálico do sangue escorrendo por entre meus dedos.
As palavras fugiam ao filtro habitual, como se outro falasse por minha boca, o tom corrosivo da minha voz misturado a uma nova linguagem sedutora, a fim de o levar ao precipício – era como se a qualquer momento eu pudesse empurrá-lo com destino à morte. E que seja agonizante e longo o encontro com o fim. A boca seca, o hálito quente constante e desejoso. O desejo saciado e tudo se resolveria.
Quando da ausência, daquele a quem odiei, o sentimento odioso infectava cada pensamento, movimento e olhar perdido: Ele tem de sofrer, sim só o sofrimento me libertaria.
Uma última reação, a ligação telefônica, um recado definitivo, indagações, um calor sufocante e a mesma falta de ar. Ele, vítima, fez-se de inocente, reagiu tomando mais um gole e inventou uma história conveniente qualquer.
Ele sim, “um qualquer”. Nem sequer consigo imaginar seu rosto, o sorriso, as mentiras, sua mão tentando me desconsertar; o que eu preciso é me encontrar. Lavar esse ódio e tentar entender como fui invadido por este sentimento tão vivo, que outrora era só teórico e agora parece estar acorrentado na minha canela. Sei que não conseguirei dormir, o ódio pulsa, escorre em minhas veias, a miséria humana é minha pele. Sinto desprezo por tudo que vivi e sonhei viver, falta sentido, não encontro a vida. Vivo o ódio, ele habita em mim e nos nutrimos um do outro. Não consigo chorar, não sei mais sentir, não sei nem quem fui – ou sou.
Que texto Fantástico!
ResponderExcluirGrata pelos elogios em meu Blog!
Quanto ao seu? Surpreendente!
nessas horas encha um saco de serragem e desconte essa ira em socos. li em segundos e com os dentes cerrados, me passou um pouco dessa fúria.
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