Confesso que flerto com o suicídio – ensaiar e executar o último ato do drama de uma vida – mas meu envolvimento com o suicídio é similar àquelas situações em que troco olhar com alguém e simplesmente não volto meu pescoço para ver indo aquele fugaz desejo, ou quem sabe a reciprocidade...
Não, o flerte dura apenas o tempo de um instante e se esvai.
Não, o flerte dura apenas o tempo de um instante e se esvai.
Tento entender, em vão, a força que leva alguém a cometer o ato e cortar ele mesmo o delicado fio da vida. O fim.
E quando há amor, e tem de ter amor, o suicídio me fascina ainda mais.
A cena fúnebre se mostra bela aos meus olhos vívidos, sinto o amor viscoso e denso copulando com a morte que se entrega toda - por tão poucas vezes ser desejada.
E quando há amor, e tem de ter amor, o suicídio me fascina ainda mais.
A cena fúnebre se mostra bela aos meus olhos vívidos, sinto o amor viscoso e denso copulando com a morte que se entrega toda - por tão poucas vezes ser desejada.
A vida sem o outro não mais faz sentido, não há razões, explicações, esperança, só a dor. E essa dor do suicida deve ser a maior já sentida, talvez a dor do não-amor com o desejo do todo-amor; o suicida acima de tudo sente, só sente. Sente tanto, que a única salvação é não sentir e partir. Partir para onde? Deixar aqui o quê?
A mediocridade da minha vida e a escassez do amor me prendem ao chão e me impedem de coroar minha biografia com a intensidade única do suicídio; mas já desejei, algumas vezes, Sr. Nelson Rodrigues: “Quem nunca desejou morrer com o ser amado, não conhece o amor, não sabe o que é amar”. Unidos, de mãos dadas, rumo ao infinito, se há mesmo o infinito. Sublime é morrer de amor com um beijo sôfrego como recordação última desta que foi uma ordinária vida.
Aos suicidas minha cândida compreensão, o amor este sim sempre tem alguma culpa.
Eu também nao entendo o ímpeto do suicidio. Toda essa história de morrer com ou pela pessoa amada foi romantizada anos e anos na literatura (Shakespeare com seus Romeu e Julieta, Ofélia de "Hamlet"...) porém a vida real é mais dura e mais cinica do que isso, nao existem amores puros. O que existe é a idealizaçao do amante que morreu. Quando a pessoa amada morre durante a paixao, ela fica eternizada e vira a pessoa perfeita. Os defeitos esquecidos, as magoas perdoadas, o beijo o mais doce e o sexo o mais prazeroso. Mas talvez se aquela pessoa nao tivesse morrido, o amor nao duraria para sempre.
ResponderExcluirSe Nelson Rodrigues tem razao, entao eu nunca amei na vida...
Olá! Passando pra retribuir a visita. Gostei dos textos. Sobre o suicídio, é realmente um ato de coragem. Ao mesmo tempo, as consequências são covardes. Abraço!
ResponderExcluirAndré San - www.tele-visao.zip.net