Madrugada adentro vão três amigos conversar amenidades, ao sabor de um tal “Suquinho Gummi”, a bebida é a desculpa para a reunião informal que tem como objetivo entreter e nada mais. O sereno da noite foi o primeiro companheiro, e sob o teto de um ponto de ônibus as criaturas notívagas e risonhas fumam, bebem e ouvem músicas (aparelho celular e seus ruídos). A rua, vazia de tudo, é lentamente tomada por uma densa neblina que impossibilita a visão de qualquer coisa a mais de 2 metros, alguém verbaliza: “Estou me sentindo em Londres, aí que delícia né?”, sim a racionalidade e bom senso tinham sido diluídos pelo álcool da bebida, ri e nada acrescentei ao delírio do meu amigo que não por acaso colore seu cabelo de um vermelho intenso e non sense.
A neblina misturada à fumaça de tantos cigarros resulta na inflamação de desejos, fantasias sexuais: sexo com estranhos, sexo em via pública, sexo a três, sexo urgente; no fim nada mais do que sexo imaginado e não realizado.
Um gato, animal que pensa ser um pequeno deus, amigos brincando com o felino e fazendo vozes em falsete, minha falta de compreensão típica, e o gato arranha e pula na face de um deles. Risadas, e um prazer em não ter dividido este momento afetivo. Gatos e seus pelos me incomodam.
Coreografias no meio da avenida, o asfalto úmido e passos enérgicos, lascivos, despretensiosos. Dançávamos, rimos mais, falamos de amor, da vida alheia, sobre homens; e dançamos com maior intensidade. Não tenho o álibi de estar sobre o efeito do álcool, bebi pouco eu era a mais pura expressão de se sentir bem e querer só se divertir.
De repente patos cruzam a rua, e com toda falta de habilidade inerente aos patos patinham em nossa frente – nem mesmo se tivesse tomado heroína na veia fantasiaria algo tão inusitado: amigos gays bêbados, rebolativos e rindo sem parar, neblina, e agora aqueles patos – talvez um casal. É muito, desisto de me entregar ao momento e busco um fio de sanidade em mim. São 05 da manhã, abraços fraternais - é hora de ir - a neblina persiste e me resta dormir a fim de tentar esquecer o quanto bobo eu posso ser. Fomos embora, mas não sem antes marcarmos o próximo encontro que aconteceu no mesmo lugar e horário em uma segunda-feira, de novo álcool e cigarros, mas sem os patos e a neblina.
"Sexo imaginado" é sempre bom. "Sexo realizado" nem sempre é. Grande abraço.
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